A
vida do meu bisavô Luiz Ferreira, dividiu-se pelo século XIX e XX. Já nesses
tempos longínquos, foi homem que nunca gostou de trabalhar para ninguém. Achava
que homem que se prezasse, não devia permitir que outros bebessem do seu suor e
optou por uma profissão liberal.
Não!
Não era advogado, nem político, foi sempre um homem sério, era cabreiro. Tinha um
rebanho próprio e como não era proprietário de terras, fazia transumância. Percorria
todo o distrito de Portalegre, apascentando as suas cabras nos valados das
ribeiras e nos baldios, (num tempo em que ainda os havia, porque durante o
Estado Novo, os latifundiários roubaram-nos todos, hoje muitos dos nomes
sonantes alentejanos, descende de gente muito pouco respeitável).
O
meu bisavô, sempre que se aproximava de uma aldeia, montava o choço e por aí
ficava, enquanto a pastagem dava alimento aos animais. Durante esse tempo,
ordenhava as cabras e vendia o leite e os cabritos.
Tornou-se
conhecido por todo o distrito e dizem as más-línguas, que semeou muitos filhos,
não se fazia rogado às moças casadoiras.
Eu
acho que o bom do velho Luiz devia ter alguns dotes de oratória, ou outro dote
escondido, porque, a julgar pela figura, não se compreende como levava o
mulherio no bico.
Bom!
Mistérios de outros séculos.
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