Em
minha casa, nunca ouvi falar de política, devia seguir-se a regra de antanho,
“a nossa política é o trabalho”, nunca foi tema em casa, esse assunto, onde
ninguém sabia ler.
Ouvi
falar vagamente no homem que caiu da cadeira, depois, apercebi-me de um outro,
com voz melosa, que falava na televisão, As Conversas em Família. Mas eu não
tinha televisão, (nem luz, nem água corrente, nem casa de banho), não era coisa
que me levasse a pagar os 5 tostões para assistir, preferia os filmes de cowboys
em casa da Joaquina Manola, ou no Salão do Gualdino. Quando Abril chegou, era
tudo novo e eu fiquei ávido de saber coisas, de ouvir discussões, e de
perceber, para opinar.
Fiz
greve no colégio particular, onde pagava 500 escudos mensais, (dos 3.500 do
salário do meu pai), dois meses depois, passei a pagar uma propina de 125
escudos por trimestre, isso levou a que um colégio de 120 alunos, no ano
seguinte passasse dos 400. Nada mudou? Mudou tudo, para quem pouco tinha.
Escrevi
textos inflamados imitando políticos, contestei professores, políticas, mas
nunca me encantei com a URSS de Brejnev, como a Zita Seabra, com a China de Mao
Tse Tung, de Burão Barroso, nem com a Albânia de Enver Oxa, como Francisco
Louçã. Sempre pensei que com um passado de povo de vanguarda, podíamos ter
tentado uma solução diferente, não sei qual.
Mas
na minha cabeça, esta democracia de pirâmide com o poder concentrado no
vértice, não me diz muito, preferia em pirâmide invertida, que diluísse o poder
na base. Mas nem na minha cabeça isso está claro, só tenho uma certeza, não
sendo “isto” bom, é muito melhor que ditadura.
Sem comentários:
Enviar um comentário