Sabem
que gosto de histórias, algumas verdadeiras que eu invento, outras reais como
esta, que estou positivamente careca de ouvir, (é próprio dos velhos, o
repetir-se).
Ocorreu,
a julgar pelas memórias de alguém com 88 anos, por volta de 1968, quando se
começou na província a falar em Descontos para a Caixa, para uma futura reforma
que por aqui, só os escolhidos tinham.
O
meu pai estava com 42 anos, na força da vida e achou bem começar a pensar no
futuro, descontando. Assim que teve oportunidade, falou com o patrão e
disse-lhe que queria descontar. O latifundiário não achou muita graça, era mais
uma despesa que até aí só tinha com criados fiéis, nunca lhe passou pela cabeça
tê-la com um simples vaqueiro. Mas percebeu que o meu pai estava determinado e
que se não anuísse ficava sem um empregado de qualidade, aceitou.
-
Está bem, patrão. E o meu pai, não pode também começar a descontar?
-
Estás a pedir de mais. Para ti, estamos de acordo, mas o teu pai já está muito
velho, não me dá rendimento para mais essa despesa. Se quiser, pode
despedir-se.
-
Mas patrão, “Fulano de tal” é da idade do meu pai e ainda ontem me disse que o
senhor lhe fazia os descontos.
-
É verdade, mas “Fulano de tal” trabalha de noite e de dia, é como um cão que
tenho ao meu serviço.
Tinha
razão, era mesmo como um cão que o serviu toda a vida, mas o meu avô também
sempre o serviu por um salário de miséria. A única diferença, era que o meu avô
não abanava o rabo à chegada do patrão.
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