PALAVRAS FORTES
Voltemos ao meu constante fetiche; as palavras.
Tenho um amor profundo por elas, gosto dos autores
que as recriam, lhes dão asas, formando conceitos novos, improváveis
significados. Adoro palavras que ganham a cara de quem as usa, o que só
acontece aos eleitos.
Eu tenho três palavras de que gosto muito, me
acompanham sempre; Liberdade, Solidariedade e Reciprocidade.
Liberdade é tudo. Não uma qualquer liberdade, a de
pensamento, que não contende com a de ninguém. Eu penso na maior liberdade, só
me limita a imaginação. Por isso, gosto de escrever loucuras, umas, não tenho
vergonha de as mostrar, outras, escondo-as para não interferir com a liberdade
alheia. Porque há quem se incomode com o pensar alheio, por falta de amplitude
imaginativa
Solidariedade é o mais nobre dos deveres. Deve ser
exercida com respeito, para não ser confundida com caridade. A caridade vem de
cima, não respeita quem a aceita e envilece quem a faz. A solidariedade é
sempre uma troca entre iguais, onde todos ganham. Todo o homem inteligente é um
ser solidário.
A reciprocidade, é-me muito cara. Por contingências
da vida, vivi muitos dos meus anos sem a conhecer, num mundo de sentido único,
não sabia o que era receber, só tinha hábitos de dar. Um dia, percebi que não
havia só vias estreitas nos meus caminhos, também eu podia circular em
autoestradas, com uma faixa de retorno. Desde esse conhecimento, até a
liberdade e a solidariedade ganharam novos valores e eu só aceito uma troca
justa. Dar o mesmo que recebo.
Há dias, tive a ousadia de inventar uma palavra e
dei-a de presente, como se fosse uma flor, que ficou a pertencer só a duas
pessoas. É mais importante que as outras, porque é única e secreta, só nós a
sabemos usar e lhe conhecemos o significado.
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