“Comeu
bem, estava tudo muito bom, ela sorria e ele estava divertido, encantado com
toda aquela simpatia. E porque não dizer, há muito que não tinha uma refeição
assim.
-
Você come bem, homem. A isso chama-se comer com gosto, faria a felicidade da
mais exigente das cozinheiras.
-
Exagerei? Estava muito bom o bacalhau, o vinho também é ótimo. Vou
confessar-lhe, estava só com um copo de café e um pão com manteiga.
-
E agora? Tenho ali um queijo amanteigado de Castelo Branco, de chorar. Vai? Não
se acanhe.
-
Também tem queijo? Você é uma mulher perfeita. Diga-me que tem café e um porto
e juro pela alma da Fifi que a peço em casamento.
-
Ahahahah! Deixe de ser palhaço, claro que tenho. Quem é a Fifi? Sua gata?
Morreu?
-
Era a minha gata, sim, mas não morreu, levei-a para a Ti Zefa, minha vizinha do
Alentejo. Percebi que ela não sabia fazer biscates e tinha o feio hábito de
comer wiskas. Ficou uma lata a um canto do frigorífico, num dia de mais aperto,
marchou.
-
Está a brincar! Você comeu mesmo a carne da gata? Não teve medo que lhe fizesse
mal?
-
Não. Porque havia de fazer? Ela sempre comeu das minhas salsichas e nunca se
queixou. Eu não queria. Mesmo. Mas nesse dia só tinha pão em casa. Abri a lata,
cheirava tão bem, não resisti…
-
Decididamente, tenho um vizinho louco. Vá lá, porque espera? Vá buscar os
queijos à dispensa, oriente-se pelo nariz.
Voltou
com uma tábua de queijos e um ar maravilhado. Nem podia acreditar…
-
Não acredito! Serra, Castelo Branco, Niza, Serpa, Mozarela, Camembere, Gruiére…
Você tem isto tudo aqui, assim?
-
Não entendo. Onde devia estar, não me diz?
-
Onde? Obviamente que no cofre-forte de um banco. Você corre um grave risco de
ser assaltada.
-
Ahahahah! Você é louco. Deixe de ser palhaço, coma o queijo para eu ir fazer o
café. E procurar o porto, claro.
-
Ok, vou provar todos, mas não porque tenha muita vontade. É só para não
defraudar as suas expetativas.
-
É bom saber que há amigos tão interessados no nosso bem-estar emocional.
Ahahahah.”
In ACASOS (Crónica de um
amor perfeito)
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