Uma história real, ouvida desde a infância/2009.
Vidas Simples
Pelas minhas contas, terá
nascido por volta de 1865, chegado a Seda em 1877, era “pechardeco”, natural de
Chança e veio trabalhar como “moleque” para casa dos Teixeira, (moleque era uma
espécie de moço de recados das casas ricas, o primeiro trabalho dum menino
antes de chegar a ganhão).
Chamava-se António Lourenço
e foi o meu bisavô materno.
Por lá conheceu uma
criadita, afilhada da casa, chamada Catarina Rosa. Acabaram de se criar juntos
e desenvolveram uma antipatia mútua, de todos conhecida, que só terminou quando
ela já não podia mais esconder a barriga.
Os patrões casaram-nos à
pressa, o mal já não tinha remédio e foram pais de oito filhos, cinco rapazes e
três raparigas.
O meu bisavô era
reconhecido na terra como um excelente trabalhador e uma pessoa muito honrada.
Era hábito por aqui haver também uma certa deferência por quem tinha vindo de
fora.
O ano de 1908 foi de uma
grande invernia. Não era possível trabalhar nos campos e lá em casa havia dez
bocas famintas. Convencido pelos vizinhos, acompanhou-os uma noite a apanhar
uns quilos de bolota, (bolêta).
Era um terrível crime
nesses tempos no Alentejo, um pobre matar a fome com o que estava destinado aos
porcos.
Ele não voltou nessa noite.
Perguntados em segredo os companheiros do “roubo”, nada de nota tinha
acontecido.
Fizeram o percurso no
sentido inverso e encontraram-no. Ao tentar saltar um ribeiro, não alcançou a
outra margem. A água gelada, o peso do saco e a correnteza, mataram-no.
Mas quem realmente o matou, foi a fome.
Mas quem realmente o matou, foi a fome.
Assim
terminou a curta história do meu bisavô “pechardeco".
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j a godinho -
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