Joaquim
Carrapato, um dos meus personagens. Pastor, pouco letrado e de uma enorme
sabedoria e sensatez. O homem que eu queria ter sido.
Monólogos
“Acontece quando tenho uma folha em branco e me apetece escrever corrido”
Assim falou o meu compadre Joaquim Carrapato.
Sim, voltou! As mudanças quase adivinhadas na
última visita acentuaram-se. Trazia a lonjura no olhar e uma maneira de falar
de atropelos, muito estranha para quem usa habitualmente um discurso calmo e
ponderado.
Despediu-se como sempre, deixou uma envergonhada
folha de papel e a frase acima, em jeito de desculpa.
É muito fácil apascentar rebanhos virtuais. Andam
na nossa cabeça, não se tresmalham, nem metem boca em pasto alheio. Guardo-os,
como se fossem o que são, parte de mim, uma extensão criada pelo meu ser
consciente. Conduzo-os com mão firme, obedecem-me cegamente em tudo, chego a
fazer deles cenários de outras “realidades”. Porque são sonhos, posso
desliga-los quando outros sonhos emergem.
Há meses sonhei algo diferente, algo que nunca
tinha ousado sonhar, porque eu nunca misturo estações, se sei que todos os meus
sonhos são legítimos, com o real costumo ser comedido, estar de sobreaviso. Foi
o sonho mais bonito e real que eu tive. Trazia nos olhos um sorriso de quem
trás um mundo inteiro como lastro e deixou-me um medo terrível que eu o fizesse
fugir. Dava-me medo olhá-lo, um tremendo pavor que o meu sonho fosse
descoberto, ou que não me achasse digno dele. E eu vingava-me, talvez em mim;
desviava o olhar embaraçado.
Hoje, o meu embaraço passou. Continuo a meter os
pés pelas mãos de confuso, mas tentado ganhar confiança. Acreditar em sonhos e
viver.
O Carrapato surpreendeu-me com suas palavras .
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