Vou-vos
falar sobre paradoxos, encruzilhadas, o que somos e o que queremos mostrar.
Quem
escreve mostra-se em cada palavra, mas tem o sonho de ficar escondido. Como se
entende este desejo de sombra de quem se quer mostrar, ser lido, dar-se à luz?
Não
sei, mas …
Porque
será? Como se explica esta dicotomia? Vaidade envergonhada? Falsa modéstia? Ou
será o interesse? Sim! Porque alguém quando edita uma obra, por mais modesta
que seja, tem o desejo de se fechar, penso eu. Nesse momento já de alguma
maneira, mesmo que inconscientemente, partiu para outra. Fecha-se não por
modéstia, mas por vaidade. O criador só tenta esconder-se para criar
“suspense”, para abrir bocas de espanto, mesmo que sejam poucas, na próxima
obra.
Não
se trata de vendas no meu caso, nos outros não sei, mas de leitores, de ser
conhecido e reconhecido, se possível.
Eu
sou um modesto escrevinhador dos confins alentejanos. Se um incógnito
“chaparro” com pouca cultura pode atingir este nível de hipocrisia e
dissimulação, pode seguir estes caminhos tortuosos do pensamento, imaginem o
que alguém realmente bom, pode fazer com este jogo de luz e sombra. É mesmo de
luz e sombra que se trata.
Por
que é muito bom ter aqueles quinze segundos de fama. Ouvir alguém dizer; “li,
gostei muito”, “não te imaginava a escrever tão bem”, “recebi e li numa noite”.
Ou alguém entendido dizer que, “a tua poesia tem que ser relida e trelida, para
se apreciar plenamente”.
Imaginem
o que é alguém que nunca pensou escrever um livro, escrever um segundo. Tê-lo
na mão, este sim todo obra sua, e perceber o salto de qualidade em todos os
aspetos. Entender que com recursos escassos conseguiu um resultado muito bom. E
ter eco dessa qualidade todos os dias.
Alguém
a quem nunca passou pela cabeça escrever para ser lido, editar dois livros em
dois anos. E neste momento estar escondido, não por modéstia, claro, mas para
criar suspense para o próximo que já anda na cabeça.
Eu
devia estar a falar de mim. Não sei se o fiz ou mesmo se valeria a pena
fazê-lo. Mas basicamente, sou “um vaidoso”, como diz o Dr. Júlio Couto. E não é
isso que somos todos os que sonham viver entre luz e sombra?
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