Um texto mais antigo, (principio de
2010), uma brincadeira bem-humorada. O tipo de escrita em que me sinto melhor.
À procura de mim
Hoje é domingo e eu estou confuso por
demais. Não sei de todo quem sou. De todos os quatro; Mello, Joaquim, Carrapato
e Felizardo, quem é o “eu”? Quem de entre os quatro criou quem? Quem foi
criado? Por quem?
O Felizardo não é definitivamente um
criador. É pouco mais que uma anedota, nasceu certamente numa sexta-feira treze
e deu isto. Parece ser aquele filho que rouba para drogas, que envergonha o
pai. Anda por aí, porque não se pode matar um filho, é anti-natural. E é
impossível “descria-lo”, enquanto não
se identificar o autor de tal desvario. Está fora de hipótese, arruma-se.
O Mello é esperto, pode ser ele? Assina
um blogue, mas parece ter mais “pose”
que conteúdo. Muito daquilo de que ele se ufana, é escrito pelo Joaquim e pelo
Carrapato. Só com uma grande doze de boa vontade o imaginaria a criar
personagens, principalmente estas duas últimas que claramente lhe são
superiores. Descartá-lo-ia como criador. Mas será criatura de quem?
O Joaquim já é uma hipótese mais
viável. Não me admiraria se fosse o criador do Mello, parece ter-lhe emprestado
características suas; ateu, livre-pensador, desalinhado de esquerda, e talvez
sem querer, um pouco de vaidade e convencimento. Também me parece possível que
num momento de saudável loucura tenha criado alguém tão estapafúrdio como o
Felizardo. Já me causa espécie, ver o Joaquim como criador do Carrapato. É
demasiado convencido para deixar viver alguém capaz de lhe fazer sombra.
O Carrapato é de todos o mais
consistente. Homem de uma enorme sensatez, apaixonado, tem contra si a falta de
cultura livresca para criar o Mello e o Joaquim. Não fora isso, eu apostaria
todas as fichas nele. Mas é demasiado sensato para a “aventura” chamada Felizardo. Fora isso, seria o criador mais
provável. A melhor aposta.
Face ao exposto e pesando os prós e os
contras, inclino-me para a hipótese de criador ser o Joaquim. Ele tem um grande
motivo. Face à sua circunstância, criou os outros e deu-lhes asas, pô-los a
voar. Mas, sendo assim, cometeu um erro, que não parece possível nele.
Esmerou-se demais no Carrapato. Corre o risco de a Criatura superar o Criador e
ainda ter desgostos.
Será mesmo assim? Não sei. Sei que
estou preso num labirinto de suposições e perguntas. Apetece-me pedir a alguém
que agarre na ponta dum fio e me venha libertar. Mas libertar quem, se eu não
sei quem sou…?
(especulações de uma noite de insónia)
- j a godinho -
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