Era uma vez, há muitos muitos anos, um rapaz azul claro.
Naquele reino tão distante, havia rapazes de todas as cores, pretos, brancos, amarelos, vermelhos, mas os que por acaso nasciam azuis, não eram aceites, nem pelos outros rapazes, nem pelos adultos. Eram apontados a dedo, tratados como se ser azul fosse crime.
Talvez por ter nascido de um azul muito claro, o rapaz nos primeiros anos de vida, não se sentia muito mal. Levava as tímidas alusões á sua cor, com uma perna às costas. Afinal nessas idades, infância e pré-adolescência, a cor da pele ainda não é determinante, não descrimina.
Com o passar do tempo, ou porque se foi tornando cada dia mais azul, ou porque estava com o crescimento a tomar mais consciência de si, foi percebendo que ia ter uma vida difícil num reino que não sabia conviver com o azul.
Depois de muito deduzir, percebeu que o culpado da sua desdita era o sol. Era a luz do sol incidente na sua pele que o denunciava ao reflectir aquela variante mal aceite do arco-íris.
Resolveu então procurar um quarto escuro e isolar-se, apartar-se da luz que o denunciava. ‘Passou anos e anos sozinho, a tentar entender-se, procurar exorcizar os seus fantasmas. Leu muito, tentou entender as pessoas e principalmente perceber o porquê da sua vida, entender-se.
Foi um tempo triste aquele, mas também tempo de se refazer, de abarcar a problemática das cores, os porquês.
Um dia, depois de muito tempo de isolamento, começou a desconfiar que o problema não estava na luz, muito menos na pele que a reflectia. Percebeu que o mundo era mesmo a cores, nenhuma melhor que as outras, só diferentes.
Que o erro estava nos outro e na maneira de olhar.