Para
gente como eu, amigo é sempre amigo.
Faça
o que nos fizer, estejamos afastados o tempo que estivermos.
Ficámos
na mesma turma, ele a Mafalda e eu. Sentámo-nos na mesma enfiada de carteira,
iniciámos assim uma amizade que durou o ano letivo inteiro.
Muito
nos divertíamos a descer a Estados Unidos, a Avenida, dançávamos a desviar-nos
dos cócós dos canitos das madames, como três elefantes, meninos já grandes, 14,
15 anos.
No
carnaval inventámos empestar a escola com produtos químicos, nós, o Francisco e
eu fomos os mandantes, até os anéis de ouro das nossas colegas, o terrível
químico comeu. O que nós nos divertimos a planificar a acção, envolvemos a
escola toda, pagámos e não mexemos uma palha!
Com
ele experimentei cerveja, não suportava, sempre vomitava, só de cheirar, mas
insistia. E, ele, amigo, tomava conta de mim, no meio de todo o pessoal:
procurava-me, ia até mim, eu ficava para trás, ele bom rapaz, segurava-me a
testa, enquanto eu cantava ao gregório e, sempre ia dizendo:
-
Na próxima ficas ao meu lado! Eu bebo, eles não dão por nada!
É
a juventude, de ontem, de hoje, de sempre!
As
idas às discotecas, eram uma charada para nós, o Chico inventava coreografias,
a Mafalda não alinhava, e nós dávamos show de trapalhada. Nos concursos dos
grupos novos, os que se queriam ser lançados no mundo musical, nós torcíamos
pelos que não valiam nada, e riamos.
As
tardes ensolaradas nos jardins dos Corjéus, olhávamos as nuvens, os pássaros e
inventávamos históras, cantavamos a desgarrada a ver quem tinha mais piada.
Tinhamos
ataques de carência, e beijavamo-nos loucamente, os três da vida airada, sem
malícia ou despique, eramos só um naquele momento.
O
Chico até teve namorada! Era a Vânia? Nem me lembro! Ele ia namorar, o que nos
dava uma grande trabalheira, subir a avenida, percorrer a avenida e sobe a rua,
para a ir visitar e, as paus de cabeleira iam atrás, A coisa não durou muito
tempo, ela não aguentou, ele ficou triste, mas foi só por um momento, ia lá
trocar a namorada pelas duas amigas?
As
tardes de estudo em casa de um deles era sempre tarde de não fazer nada, mas
começávamos, terminávamos era a dormir ou a lanchar, sem o estudo acabar.
E,
há muitas mais histórias que não vale a pena contar.
Depois
estive muito tempo sem o ver.
Vi-o
de fugida num autocarro no Rato, ia com uma nova amiga. Gostei dela.
A
última vez que o vi, estava em lua-de-mel. Ia sozinha a atravessar a estrada, e
quem vejo no outro lado da rua? Vimo-nos em simultâneo, nem houve tempo para
falar! Pegou-me ao colo, saltou comigo no ar, abraçou-me, beijou-me como nos
bons velhos tempos. E comigo em final de passo de tango, pergunta-me:
–
Que fazes aqui?
–
Estou em lua-de-mel!
Endireitou-me,
verificou se estava inteira e, pergunta-me:
–
Onde está o teu marido!
–
Ali! Apontei.
Correu
a justificar-se ao meu marido que compreendeu.
–
Ufa! Esqueço-me que cresci!
Nós
ainda somos assim! Filhos de uma raça que não tem pudor nem maldade e, vive com
ou sem fantasia. Até breve!
(Matilde
Rosa)
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