sábado, dezembro 11

A Liberdade dos Prémios Nobel da Paz I


Depois de 15 anos de prisão domiciliária, foi libertada, em 13 de Novembro passado, pela Junta Militar que governa a Birmânia (actual Myanmar) a líder política e activista dos direitos humanos, Aung San Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz em 1991.
Suu Kyi é filha do general Aung San, herói nacional da independência da Birmânia, assassinado em 1947, quando Suu Kyi tinha apenas dois anos de idade. Exilada em Londres, regressou à Birmânia em 1988, quando eclodiu uma revolta popular contra 26 anos de repressão política e forte recessão económica no país.
A partir desta data tornou-se líder da oposição ao regime militar que governa o país, situação que mantém até à presente data.
Em 1999 foi-lhe concedido o prémio Sakharov de liberdade de pensamento.
Em 8 de Outubro do corrente ano foi concedido o prémio Nobel da Paz de 2010 a Liu Xiaobo, dissidente chinês, que se encontra preso, por actividades políticas desde 2008.
O prémio Nobel da Paz, atribuído pelo Comité Nobel Norueguês, deveria distinguir, de acordo com a vontade do seu fundador, Alfred Nobel, a pessoa que tivesse feito a maior ou melhor acção pela fraternidade entre as Nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz.
Ao contrário dos outros prémios Nobel, o Nobel da paz é um prémio com características especiais, pois pode ser atribuído a pessoas ou organizações que estejam envolvidas num processo de resolução de problemas, em vez de apenas distinguir aqueles que já atingiram os seus objectivos numa área específica.
Aquele que mais directamente nos diz respeito refere-se a 1996, ano em que o prémio foi atribuído a duas personalidades de ascendência portuguesa, os timorenses Dr.José Ramos Horta e D. Carlos Filipe Ximenes Belo, à data bispo de Díli, pelo seu trabalho conducente a uma solução justa e pacífica para o conflito em Timor-Leste, ex-colónia portuguesa então ocupada pela Indonésia.
De referir, pela sua importância relativamente a Portugal, o prémio atribuído em 1993 a Nelson Mandela, que viria a ser Presidente da África do Sul, pelo seu trabalho com vista ao fim pacífico do regime de “apartheid” e por estabelecer os princípios por uma nova África do Sul, país onde se encontra radicada uma forte comunidade portuguesa.
As semelhanças entre Aung San Suu Kyi, Liu Xiaobo e Nelson Mandela, referem-se a um passado de luta pacífica e à detenção, por motivos políticos, nos respectivos países de origem – Birmânia, República Popular da China e África do Sul.
No entanto, se na Birmânia e na África do Sul os prémios Nobel da Paz foram restituídos à liberdade, após longos anos de privação da mesma, na República Popular da China a prisão mantém-se para Liu Xiaobo, Nobel da Paz em 2010.

(João Aurélio Raposo)

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