ACASOS – Cronica de um
amor perfeito
Acordou
cedo e bem descansado, depois do duche, vestiu só as calças e andou por ali a
tomar o café e a tentar não se esquecer de nada. Estava no quarto, quando lhe
pareceu que a porta se abria, sorriu, “Visita madrugadora?”, ouviu uns passos
inconfundíveis a chegar à porta do quarto.
-
Vizinha do 5º esquerdo? Entra linda.
A
porta semicerrada, abriu-se totalmente.
-
Ouve lá palhaço, quem é a serigaita? E o que vinha fazer aqui?
-
És tu loirinha? Que bom que vieste, entra e dá-me um beijo.
-
Deixa de ser sonso, quero uma explicação, já.
-
Ahahahah! Meu amor, pensa. O meu prédio só tem até ao 4º andar. Tontinha.
Ela
riu da sua própria fúria.
-
Tu tiras-me do sério, homem. Apetece-me bater-te.
Agarrou-a
pela cintura e deitou-a na cama ainda desfeita. Depois deixou cair o seu corpo
sobre o dela, quente e macio. Estava em tronco nu e as mãos de Sara,
timidamente, começaram a percorrer-lhe as costas, primeiro delicadas e lentas,
depois com a sofreguidão do desejo, cravava as unhas por todo o corpo. Beijou-a
com carinho e à medida que ela respondia, os beijos prolongavam-se, mordidos,
amassados e com a língua procurava a dela, cada vez mais avidamente. Desceu
para o pescoço e abriu-lhe a blusa, com movimentos lentos e os olhos cravados
nos dela, incendiados e muito mais brilhantes, de pupilas dilatadas.
O
“soutien” abria ao meio e ele deixou-a de seios nus, admiravelmente belos, de
um branco leitoso e mamilos bem definidos e rosados. Começou por colar o seu
peito nela, enquanto lhe voltava a procurar a boca, louco, de seguida, quando
passou a acariciar e beijar-lhe os mamilos, ela tremia. A língua à volta deles,
numa dança mágica, arrancava gemidos de prazer e movimentos do tronco e da
cabeça de Sara, o rosto afogueado dos dois, denunciava o estado de excitação.
Estavam prestes a atingir o ponto de não retorno, quando ouviu uma voz dela,
débil, com muito pouca convicção.
-
Espera, João. Assim não, não temos tempo, nem é o lugar. Lembra o que
combinámos.
Caiu
em si. Um último beijo longo e intenso, rolou na cama e ficaram lado-a-lado, de
respiração acelerada e de olhos fixos no teto. Enquanto ela apertava a blusa,
ele começou a rir.
-
Ufa! Estivemos muito perto. Quase o Lobo Mau e o Capuchinho Vermelho, perdoa
linda, descontrolei-me.
-
Não tens culpa, eu também estava aqui e fiquei louca de vontade. Temos que ir
embora, mas antes vou só lavar-me, não posso ir trabalhar assim.
-
Assim como?
-
Ora! Parvo, não faças perguntas indiscretas.
Antes
de ir, atirou-lhe uma almofada e ele ficou a rir do embaraço dela. Deixou-o na
estação, pouco passava das oito e meia, ia chegar atrasada ao hospital e não
gostava disso. Foi mesmo uma tonta, devia ter previsto aquela agarração. Se
neste ensaio, falhado, foi assim, quando a ocasião chegasse ia morrer. Tinha
que beber muitos líquidos, ou corria o risco de desidratar.